quinta-feira, 22 de outubro de 2020

33 - A consciência alienada é a verdade: Intelectual, pequeno burguês a serviço do capitalismo.

 


O intelectual não é, “o portador de valores universais”; ele é alguém que ocupa uma posição específica, mas cuja especificidade está ligada à funções gerais do dispositivo de verdade em nossa sociedade. O intelectual tem uma tripla especificidade: a especificidade de sua posição de classe, pequeno burguês a serviço do capitalismo, intelectual “orgânico” do proletariado; a especificidade de suas condições de vida e de trabalho, ligadas à sua condição de intelectual, as exigências políticas a que se submete na universidade; finalmente, a especificidade da política da verdade nas sociedades contemporâneas.

O intelectual funciona no nível geral do regime de verdade, que é essencial para as estruturas e para o funcionamento da sociedade. A um combate pela “verdade”, por verdade não quero dizer o conjunto de coisas verdadeiras a descobrir ou a fazer aceitar, mas o conjunto de regras criadas para manutenção do poder. Não se trata de um combate “em favor” da verdade, mas em torno do estatuto da verdade e do papel econômico-político dos intelectuais não em termos de “ciência/ideologia”, mas em termos de “verdade/poder”.

Por “verdade”, entender um conjunto de procedimentos regulados para a produção, a lei, a repartição, a circulação e o funcionamento dos enunciados.

A “verdade” está circularmente ligada a sistemas de poder, que a produzem e apoiam, e a efeitos de poder que ela induz e que a reproduzem.

 

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2017. p. 53.

 


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