O intelectual não é, “o portador
de valores universais”; ele é alguém que ocupa uma posição específica, mas cuja
especificidade está ligada à funções gerais do dispositivo de verdade em nossa
sociedade. O intelectual tem uma tripla especificidade: a especificidade de sua
posição de classe, pequeno burguês a serviço do capitalismo, intelectual “orgânico”
do proletariado; a especificidade de suas condições de vida e de trabalho,
ligadas à sua condição de intelectual, as exigências políticas a que se submete
na universidade; finalmente, a especificidade da política da verdade nas
sociedades contemporâneas.
O intelectual funciona no
nível geral do regime de verdade, que é essencial para as estruturas e para o
funcionamento da sociedade. A um combate pela “verdade”, por verdade não quero
dizer o conjunto de coisas verdadeiras a descobrir ou a fazer aceitar, mas o conjunto
de regras criadas para manutenção do poder. Não se trata de um combate “em
favor” da verdade, mas em torno do estatuto da verdade e do papel econômico-político
dos intelectuais não em termos de “ciência/ideologia”, mas em termos de “verdade/poder”.
Por “verdade”, entender
um conjunto de procedimentos regulados para a produção, a lei, a repartição, a
circulação e o funcionamento dos enunciados.
A “verdade” está
circularmente ligada a sistemas de poder, que a produzem e apoiam, e a efeitos
de poder que ela induz e que a reproduzem.
FOUCAULT, Michel. Microfísica
do poder. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2017. p. 53.
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