quinta-feira, 22 de outubro de 2020

33 - A consciência alienada é a verdade: Intelectual, pequeno burguês a serviço do capitalismo.

 


O intelectual não é, “o portador de valores universais”; ele é alguém que ocupa uma posição específica, mas cuja especificidade está ligada à funções gerais do dispositivo de verdade em nossa sociedade. O intelectual tem uma tripla especificidade: a especificidade de sua posição de classe, pequeno burguês a serviço do capitalismo, intelectual “orgânico” do proletariado; a especificidade de suas condições de vida e de trabalho, ligadas à sua condição de intelectual, as exigências políticas a que se submete na universidade; finalmente, a especificidade da política da verdade nas sociedades contemporâneas.

O intelectual funciona no nível geral do regime de verdade, que é essencial para as estruturas e para o funcionamento da sociedade. A um combate pela “verdade”, por verdade não quero dizer o conjunto de coisas verdadeiras a descobrir ou a fazer aceitar, mas o conjunto de regras criadas para manutenção do poder. Não se trata de um combate “em favor” da verdade, mas em torno do estatuto da verdade e do papel econômico-político dos intelectuais não em termos de “ciência/ideologia”, mas em termos de “verdade/poder”.

Por “verdade”, entender um conjunto de procedimentos regulados para a produção, a lei, a repartição, a circulação e o funcionamento dos enunciados.

A “verdade” está circularmente ligada a sistemas de poder, que a produzem e apoiam, e a efeitos de poder que ela induz e que a reproduzem.

 

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2017. p. 53.

 


terça-feira, 31 de março de 2020

32 - Impressões de Michel Foucault. Roberto Machado.



Impressões de Michel Foucault, é um belo livro, fácil de ler e entender, escrito pelo filósofo brasileiro Roberto Machado. No livro o autor apresenta com riqueza de detalhes as experiências que obteve ao lado de Michel Foucault durante os anos que estudou na França.
Na obra, Roberto Machado apresenta suas impressões através de textos e imagens, do homem e filósofo Michel Foucault.
N-1 Edições.
P. 240.
2017

segunda-feira, 23 de março de 2020

31 - Biopolítica e Coronavírus, ou não se esqueça de Foucault, 2020.



O que a epidemia de coronavírus nos mostra é mais a força do esquema explicativo de Michel Foucault do que a atual linha de interpretações necropolítica. Todos sabemos que Foucault via o biopoder como uma série de eventos, desde os teóricos até as práticas concretas, que formaram a base de uma nova relação entre estados nacionais e o elemento biológico da vida humana. Não mais a exclusão da vida política e a pilhagem de bens e direitos que caracterizariam o Antigo Regime, mas sim novas técnicas organizadas em torno da melhor extração das forças vivas. Assim, o biopoder é um índice descritivo do momento em que os Estados começaram a exercer a gestão de esferas da vida social que hoje nos parecem óbvias, como assistência à saúde, taxas de natalidade e mortalidade, etc. Foucault não sugere que isso se deva à preocupação humanista do Estado; trata-se, de fato, de atender às demandas do capitalismo. Bruno Cava sintetizou bem em seu texto recente: o conceito de biopolítica não descreve necessariamente uma situação “boa” ou “ruim”: Foucault limita-se a apontar precisamente os limites de nossa situação.
Diante do coronavírus, a maioria dos Estados exerceu forte controle sanitário e populacional para impedir sua propagação; estritamente falando, estão sendo tomadas ações para evitar um maior número de mortes. Essa biopolítica nos coloca no domínio de como Foucault concebeu as técnicas de gestão populacional, focadas (principalmente, mas não exclusivamente) para melhor condicionar as forças vivas. É cada vez mais evidente, no entanto, que mesmo ações drásticas não foram suficientes para conter a disseminação do vírus, e um senso de responsabilidade coletiva está crescendo para com aqueles que não podem se proteger: aqueles que não podem trabalhar em casa, aqueles que são em condições sanitárias desfavoráveis, idosos etc.
Por Felipe Demetri



30 - Michel Foucault. A necropolítica das epidemias. Novo Corona Vírus.



Enquanto o vírus corona aciona o pânico coletivo dos regimes autoritários, o vírus zika abandona as mulheres mais vulneráveis ao abuso de governos patriarcais que perseguem a reprodução.

A epidemia do vírus corona parece uma atualização das aulas de Michel Foucault sobre biopolítica, segurança e territórios. A biopolítica é o poder que organiza as políticas da vida, isto é, são táticas que regulam que corpos devem viver e quais podem ser descartáveis. A explosão de uma epidemia é um momento efusivo à biopolítica: em nome da proteção coletiva se controlam os corpos, se traçam fronteiras reais ou imaginárias à saúde. Assim foi com a epidemia de zika vírus. Com zika, no entanto, o pânico global foi ligeiro, pois logo se compreendeu que o risco à doença estava confinado aos países tropicais. E por que o rápido silenciamento sobre o zika? Porque toda biopolítica se converte em uma necropolítica quando os regimes de desigualdade determinam quais corpos vivem o risco.
Há uma nova doença em curso, e sobre a verdade do vírus não parece haver controvérsia — a Organização Mundial de Saúde a descreve como COVID-19, uma doença infecto-respiratória semelhante à gripe. Por ser um vírus novo, a taxa de infecção é alta, pois não há imunidade por adoecimento prévio ou proteção por vacina. Uma doença se apresenta como perigosa às populações por seu potencial de contaminação ou pelo risco de morte. Nesse sentido, os vírus corona e zika se parecem na epidemiologia: populações sem imunidade e risco de morte concentrado em determinados grupos etários — no caso do vírus corona, entre idosos; do zika, entre crianças.
Mas o burburinho das duas epidemias foi diferente. Houve compaixão às mulheres e seus filhos, discutiu-se os riscos de a doença sair do Sul Global para o Norte pelo risco de transmissão sexual, uma vez que o mosquito, o principal vetor, estava concentrado nas casas precárias dos trópicos. No entanto, não houve desaceleração da economia global, flutuação da bolsa de valores ou cancelamento de desfiles de moda, congressos acadêmicos e encontros de negócios, como ocorre com o vírus corona. Há um verdadeiro “pânico coletivo”, segundo Giorgio Agamben, cujo exagero da resposta seria, na verdade, um pretexto de governos autoritários para mover o “estado de exceção”.
Agamben está certo em descrever que o estado de medo em que vivemos se alimenta com momentos de “pânico coletivo”. O vírus corona permite fechar fronteiras, impedir mobilidade nas cidades, confinar indivíduos às casas. Se a política do medo explica o exagero da resposta e sua utilidade para os regimes autoritários, para nós, há uma outra particularidade em como se respondeu à epidemia de zika em comparação à de corona: zika era uma doença com risco global, mas se mostrou uma doença de gente miserável e uma sentença de vida às mulheres anônimas.
Nossa estranheza não é ressentimento de mulheres latinas que, ainda hoje, acompanham a peregrinação das sobreviventes de zika com seus filhos. Como qualquer outra pessoa, estamos expostas ao vírus corona, mas diferentemente das mulheres pobres do Brasil, Colômbia, El Salvador ou Venezuela, não estamos em risco ao adoecimento pelo vírus zika, ou sob leis criminais que proíbem o aborto ou sob regimes de pobreza que desamparam o cuidado. É preciso especificar quais mulheres vivem o vírus zika como uma ameaça para o futuro —as mulheres mais vulneráveis, negras e indígenas, jovens e pobres. Essa é a passagem da biopolítica para a necropolítica das epidemias: o vírus corona aciona o pânico coletivo dos regimes autoritários que não querem estrangeiros em terras próprias; o vírus zika abandona as mulheres mais vulneráveis ao abuso de governos patriarcais que perseguem a sexualidade e a reprodução.

Debora Diniz é brasileira, antropóloga, pesquisadora da Universidade de Brown.
Giselle Carino é argentina, cientista política, diretora da IPPF/WHR.


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

29 - David Rubens: Livros.



RUBENS, David. História da Igreja. 1. ed. Pindamonhangaba: IBAD, 2020. ISBN - 978-85-60068-59-3. P. 200.
RUBENS, David. Pentateuco: História, composição e aspectos teológicos de Gn, Êx, Lv, Nm e Dt. 1. ed. Pindamonhangaba: IBAD, 2020. ISBN - 978-85-60068-56-2. P. 300.
RUBENS, David. Capelania Cristã: serviço de assistência espiritual. Pindamonhangaba-SP: IBAD, 2020. ISBN. 978-85-60068-54-8. P. 100.
SOUZA, David Rubens. Jesus Histórico: o caminho do amor e do cuidado. Curitiba-PR: Editora Prismas, 2016. ISBN - 978-8555-07379-3. P. 110.
RUBENS, David. No caminho com Deus: Livro de Reflexões. Pará de Minas/MG: Kerygma, 2012. ISBN. 978-85-7953-638-0. P. 85.
RUBENS, David. Jesus: modelo de práxis-social cristã. São Paulo: Kerygma, 2011. P. 96.


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